quinta-feira, abril 30, 2009

A vida dentro do espelho

Ele sempre se perguntava, quando para o espelho olhava. ”Como será viver lá dentro?”. Espiava com atenção e tudo que via era igual às coisas que encontrava ao seu redor. A mesma parede, a mesma decoração.
Às vezes se aproximava mais, para tentar enxergar melhor e quem sabe encontrar algum detalhe diferente. Porém, nunca tinha sucesso em sua empreitada e tudo que via era o reflexo idêntico, sem ter o que tirar nem pôr.
Essa dúvida o atormentava. Passava os dias pensando sobre isso, às vezes, é claro, esquecia. Mas, bastava passar diante da janela de vidro para a questão renascer em sua mente.
- Deve ter um jeito de entrar. - pensava. De tanto se perguntar, aparentemente, chegou a uma solução. Se meu reflexo e eu trocássemos de lugar eu poderia responde esta questão.
Decidiu então apostar nesta ideia para saciar sua sede por respostas. Seguiu até o espelho para colocar seu plano em prática.
– Nem sentirão minha ausência. – contatou. – Meu reflexo ficará meu lugar.
Conforme foi avançando, com um intuito de propor um acordo para sua imagem em semelhança, um medo começou a tomar conta de sua mente.
- Depois de que tudo explorar, como eu farei para chamá-lo e, assim, destrocar? – se perguntava. – E se ele não quiser destrocar? Será que ficarei preso para sempre?
E assim, quando estava prestes a realizar seu desejo, em frente ao espelho, resolveu deixar aquela ideia de lado exclamou com tom de piada:
- Não foi dessa vez que você conseguiu me enganar. – falava para seu reflexo rindo. – Você não vai tomar o meu lugar.
E assim, voltou para o quarto, enquanto o reflexo ficou parado e decepcionado por ter que continuar prisioneiro da cela de vidro.

O impossível

Será a barreira imposta?
Ou algo realmente inalcançável?
Pergunta sem resposta.
O certo é ser algo improvável.
Pode ser a queda de uma regra,
Da natureza ou da sociedade.
A atitude que quebra
E derruba a dificuldade.
O paradigma contundente
Que varia com a idade.
O estímulo para a mente.
Da vida a complexidade.
A limitação do presente.
Como o primeiro passo
Ou chegada ao espaço.
O impossível é algo não realizado
Que em breve será superado.

A rua

Passa carro, passa gente.
Guarda vidas, guarda memórias.
Momentos felizes, dores carentes.
Sobre o concreto são cravas histórias.
Asfalto, paralelepípedo ou terra,
Com buracos ou depressões.
Da janela, a mãe berra
Para os filhos brincalhões.
No interior a pasmaceira.
Dos vizinhos os contos,
Pela voz da fofoqueira,
Que analisa os mínimos pontos.
Na metrópole a correria.
Gente para todos os lados.
Agitada todo dia.
Com o tempo, preocupados.
Não importa a localização.
O tamanho ou a composição.
Todos os relatos contem.
De gente do mal ou do bem.

quarta-feira, abril 29, 2009

A mística do absurdo

A fantástica imaginação infantil,
Vai além de onde a vista alcança.
Afasta-se do mundo hostil,
Banhando a alma de esperança,
De forma singela e hábil.
A artimanha da criança,
Que cria um mundo de magia.
De absurdos cativantes.
Que alegra e contagia,
Muda tudo em instantes.
Em meio a sonhos e fantasias
Somos levados além
Das mazelas de todo dia,
Conduzidos ao estar bem.
A vida em estado de poesia,
Voltar a ser um neném,
Que ao mínimo toque sorria.
Sem precisar de artifício.
Sem temer a desilusão.
Sem qualquer sacrifício.
Apenas com a imaginação.
Somos libertados do hospício,
Das loucuras que geram destruição.
É da melhora o primeiro indício.
A mente sem limites, imensidão.

As vozes

Se os olhos são os espelhos,
As vozes são a explosão.
Os sonoros aparelhos
Que propagam pela imensidão.
Sob várias faces escondida,
Quebrando o silêncio se revelam.
Imponente ou distorcida.
As dos jovens se rebelam.
Podem ser suaves, miúdas,
Rancorosas, ferozes,
Graves ou agudas.
Multiformes são as vozes.
Afinadas, melódicas, musicais,
Metálicas, fanha, ou até de pato.
Espalham-se em palestras, recitais.
Descrevem os relatos.
Podem ser duras e brutais,
Distorcendo os fatos.
Explícita ferramenta de comunicação,
Muito usada para exibir a dor.
Seria mais útil sua função,
Se expressasse apenas o amor.

terça-feira, abril 28, 2009

O menino que foi engolido pelo medo

Ele era um garoto que possuía um exótico bicho de estimação, que o chamava de medo. Conservava-o sempre ao seu lado, mesmo com os alertas repetidos, “para de alimentar isso menino”, ele continuava e não ligava.
Era seu íntimo, conhecia seus segredos, cujos quais, o garoto fazia questão de lhe confessar. Sempre o alimentando, com muita regularidade. Aos poucos foi crescendo, tornando forma, cada vez mais animalesca. O menino, então, passou a sentir-se coagido pelo animal que criara. Assim, pouco a pouco, ele começou a ser dominado, com seus atos sendo controlados, impedindo-o de ser feliz.
Não se sentia mais seguro, temia por tudo, inclusive o escuro. O medo tornava-se cada vez mais forte e ameaçador. A partir daí, o garoto perdeu o controle sobre seu bicho de estimação, que muito forte e sedento. Os sentimentos de seu dono não bastavam para saciá-lo. Então, um belo dia devorou o menino por inteiro, dos pés a cabeça, e numa bocada só, o engoliu.

A pequena luz

Brilha em minha alma,
A pequena luz incandescente,
Que aos poucos me salva.
Torna-me valente.
Qualquer percalço superar,
Com expressão sorridente.
Em nenhum momento murmurar.
Chama que incendeia,
Inflama o coração.
Abre os olhos, norteia.
Indicando a direção.
O corpo fortalece,
Levanta-se renovado.
Sobre o medo prevalece,
Agindo de bom grado.

Colisão de sentimentos

O embate das sensações.
Da consciência a instabilidade.

O esboço das emoções,
Em plena atividade.

Atravessa desgovernado
Os caminhos tortuosos.

O compreender engessado
Pelos corações orgulhosos,

Que pensam na própria posição,
Não abrem os caminhos,

Nem desvios como opção.
E assim acabam sozinhos.

Os motivos

A cada um, pertence,
Sendo mais justo o pessoal.

Impondo às vezes convence,
Não é o caminho ideal.

Pode ser um sonho.
Por um tipo de limitação.

Por este motivo proponho,
Um momento de reflexão.

Será que somos tão compreensivos,
Quando estamos frente a frente
Com qualquer que seja o motivo,
Que não seja o da gente?

Superar

O adversário, o medo
Que nos toma a mente,
Ditando o enredo.
Às vezes forte, contundente.

Para enfim vencê-lo
É preciso dedicação.
Estudá-lo, conhecê-lo.
Adquirir forças para então

Torná-lo pequeno.
Encontrar a cura.
Não mais assustar.

É o antídoto do veneno
Que tanto procura,
Para o medo superar.

segunda-feira, abril 27, 2009

A barata que sabia ler

Certa vez, ao entrar em uma biblioteca, deparei-me com uma cena, no mínimo, inusitada. Um ser de extrema repugnância, num ato de elegância. Lá estava a barata, correndo de um lado para outro, percorrendo um livro sobre a mesa.
Aproximei-me devagar com intenção de matá-la. Neste momento comecei a observar melhor o estranho comportamento do pequeno, e para a maioria, nojento, inseto. Ela corria, acompanhando cada linha, até chegar o final da página, mudava para o outro lado e seguia na mesma sequência.
O que surpreendeu mesmo foi quando ela realizou um ato inesperado, ao terminar de percorrer a extensão da folha da direita, posicionou-se ao lado dela e com algumas cabeçadas a levantou e começou a empurrá-la vagarosamente, na medida que sua limitada força permitia. Ao virá-la, continuo no mesmo processo.
Fiquei admirado. Não é possível, pensei, uma barata lendo. Neste instante fui abordado por um dos bibliotecários que logo exclamou:
- Ela consegue ler melhor que muita gente por aí, hein?
- Então é verdade mesmo? – perguntei admirado.
- Sim. Há algum tempo percebemos isso, as pessoas deixam os livros sobre a mesa e logo que saem ela começa a leitura. Hoje os frequentedores assíduos da biblioteca já estão habituados e, na maioria das vezes, deixam alguns livros sobre a mesa para ela. - explicou o solícito bibliotecário.
- Meu Deus. - foi a única coisa que consegui dizer diante daquela cena.
- Bem, agora que já está tudo esclarecido eu vou. Tenho que terminar de catalogar estes livros. Até logo. – despediu-se o garoto.
- Até logo. Obrigado pela explicação e atenção. – agradeci olhando extasiado aquele acontecimento inusitado.
Observei por mais alguns segundos e resolvi voltar para minha casa. Enquanto caminhava pensei, talvez seja por isso que elas consigam viver por tanto tempo, mesmo diante de tantas ameaças, inseticidas e dedetizadores.

O bebê

De família a renovação.
Chegada do novo ente
Que requer atenção.
Frágil, carente.
Acalenta o coração.
Sempre sorridente.
Desperta preocupação
Com o choro estridente.
O ponto de união
De charme envolvente.
O pequeno embrião
Que acaba de virar gente.

O autocontrole

O controle manter
Não parece simples missão.
Uma virtude a obter
Para conter a emoção.

Não se deixar levar
Por qualquer sensação.
Pensar e pensar,
Para evitar a explosão.

O hábito aplicado,
Já não é mais propício
Torná-lo enfim superado
Requer esforço e sacrifício

O instinto domado.
O estado de ciência,
Para não ser levado,
Pela vil impaciência.

A compreensão

A origem do perdão
E da paz interior.
Aceitar de coração,
O gesto de amor.
A mente em elevação,
Libertada da dor.
A aquisição de experiência,
Fortalece a paciência.

Em nenhum momento impor.
A ajuda sincera aplicar.
Afastar qualquer temor
Com o singelo olhar.
A sua atenção dispor
E com o amor curar.
Corrigir com esmero,
A obtenção do perdão sincero.

O conflito interno

Por dois é a divisão.
A separação da mente.
A dupla opinião,
Em corrosão ardente.
O certo e o errado,
De choque é o estado.
A vil confusão
Que lhe toma a razão.
Levado pela leviandade,
A visão é distorcida.
Da alma a enfermidade,
Que a torna corrompida.
Da posição a discrepância.
O sepultar da infância.

sexta-feira, abril 24, 2009

A caneta que não queria escrever

Tremendo era o medo daquela caneta. Não havia argumento que a convencesse escrever.
Desde as mais experientes, que por muitos papéis já passaram vivendo histórias, embalando corações com canções, poesias ou cartas de amor, desenhando com a criança, assinando os documentos e tantas outras realizações, não apresentavam motivos convincentes que mudassem sua mente.
Eram muitas as opiniões, algumas afirmavam, “não pode ser assim, caneta tem que escrever”, outras avisavam, “não pode parar, assim você vai secar”.
– Não me importa que seque. Minha tinta não colocarei em cheque. Dizia turrona, sempre com furor.
Enquanto outras canetas completavam seu ciclo, olhando com orgulho para as obras realizadas, ele ficava solitária sem nada para ostentar, além do tinteiro cheio, com o conteúdo preservado. Isso parecia lhe bastar.
Porém, o que ninguém sabia era a origem do seu medo. Temia falhar no momento decisivo e ser deixada de lado, jogada, abandonada. - E se minha tinta acabar para onde vou? - sempre se perguntava.
E assim ela seguiu até secar, sua tinta endureceu e o fim que sempre temeu tornou-se realidade. O lixo foi seu destino, sem deixar ao menos um pequeno traço, mesmo que de teste, para ser lembrada.

O olhar

Às vezes é inocente,
Cândido, límpido, ingênuo.
Às vezes é carente,
Mais triste e ameno.
Às vezes é faceiro,
De charme reluzente.
Às vezes é arteiro,
Sensual e envolvente.
Do brilho, a beleza.
Da sinceridade, a pureza.
De luz cintilante,
A profundidade do olhar.
Prende-me a todo instante.
Rendendo-me ao amar.

Momento intermediário

Já não é mais tão ruim.
Porém, ainda longe da perfeição;
Distante ainda do fim.
Em estágio de evolução.
Traços infantis permanecem,
Conservados na essência.
Alguns até enobrecem
Quando unidos à experiência.
Longo caminho a ser percorrido,
De obstáculos a serem superados.
Em meio a enigmas, perdido,
Mas com alguns mistérios revelados.
O nascer da maturidade.
A segurança, a preparação.
Confiança e habilidade,
Em plena expansão.

A dor de cabeça

O mínimo som que por toda parte ecoa,
Desfaz o mais convicto pensamento.

Insiste em confundir, pelo ar ressoa,
Roubando a razão e o discernimento.

Todo o equilíbrio mental destoa,
Sem pudor ou consentimento.

O sussurro que estrondoso soa,
Confunde-se e torna-se tormento.

O controle é perdido, a estrutura abalada.
Contagem regressiva, violenta explosão.

A razão tão danificada.
Perde-se em meio à sensação.

O cérebro partindo em dois,
Derretendo em dor profunda.

Sem qualquer defesa depois
Que dominado pela dor, da mente oriunda.

Navegar por novas águas

Novos horizontes explorar.
Atirar-se sem medo.
Por outras águas navegar
E desvendar cada segredo.
Outras ondas de outro mar.
Vivenciar novo enredo.
Navios, então, recheados
De tesouros revelados.

As tormentas enfrentar,
De ventos e tempestades.
Às vezes quase afundar.
Estimular as habilidades,
Para o naufrágio evitar,
Desviando das adversidades.
Pelo balanço embalado.
Pela grandeza do oceano, hipnotizado.

Além das águas salgadas,
Rios e lagos também atravessar.
Outras correntes exploradas.
O versátil navegar.
As mãos sempre preparadas
Para qualquer desafio enfrentar.
Como o experiente almirante
Que segue sempre adiante.

quinta-feira, abril 23, 2009

O caderno

De papel ele é composto.
Por capas protegido.

Quando aberto é exposto
O conteúdo que pode ser restringido.

Agrada a todo gosto
Com interior simples ou colorido

As folhas preenchidas
E as linhas, tomadas

Por palavras descabidas
Ou frases inspiradas.

Para simples anotações
Ou cúmplice diário.

Redigir algumas lições
Ou demarcar o itinerário.

Onde se grava a inspiração
Dos grandes escritores.

Poesias, contos ou narração,
De vidas, decepções e amores.

Momento de decisão

A hora da verdade é chegada.
Da conquista a proximidade.
A habilidade é, então, avaliada.
Prevalece apenas a qualidade.

Sangue e frio e inspiração,
Os requisitos necessários,
Para a conquista, a consagração,
A queda dos adversários.

Para evitar a decepção,
Alternativos itinerários.
É preciso se preparar.
Não temer os caminhos contrários.
Ter a humildade de recuar,
Para retornos inusitados e revolucionários,
E os medos superar.

A proveitosa provação.
Em cheque é posto o merecimento.
E a calma na decisão
Torna-se o mais sábio comportamento.

Quase

O ponto que dois pólos separa.
O limite a ser superado.
É o desafio que se encara
Quando há algo almejado.
O quase não é ser,
Estágio estacionário,
Que necessita se submeter
Ao ato revolucionário.
O quase não é conquistar.
Pois ainda não está concluído.
Se a barreira não derrubar
É objetivo não atingido.
O quase não é chegar.
Pois existe o caminho a ser percorrido
E muitos problemas para enfrentar,
Para enfim sair enriquecido,
Pela benção de lutar
E nunca se dar por vencido.

O sereno

A suave lágrima noturna
Que por onde passa tudo encobre.
Pelo ar dissipa-se, soturna,
Que congela o flagelo pobre.
Trazida pela noite fria,
Gélido pode ser o estado.
Como um ato de magia,
Espalha-se por todo lado.
Da umidade o rebento,
De formato, às vezes, petrificado,
Também chamado, relento.

Composição

Cada voz harmonizar.
As melodias em sintonia.
Aos ouvidos agradar,
Com a mais bela sinfonia.
A arte musical
Em estágio sublime.
O mais belo canto angelical.
O que prazer à alma imprime.
Não apenas uma junção de sons
Ou a virtuosidade em evidência.
O singelo encontro de tons.
A empolgante experiência.
A intensa alegria
Ou a súbita tristeza.
A mente contagia
Com sua rara beleza.

O acordo

Das partes a similaridade.
Ao meio termo chegar,
Para evitar a agressividade
E a tão sonhada paz conquistar.
Fruto de incessantes conversas,
Enfim o acordo desejado.
As animosidades dispersas
E as vaidades deixadas de lado.
A comodidade coletiva
Que inspira a resolução.
Causa nobre que motiva
O fim da discussão.

A imensidão do meu amor

Imenso é o meu amar
Pela mulher da minha vida.
É maior até que o mar,
Sem comparação ou medida.

Do seu olhar irradia
A inspiração do meu viver.
O fruto da minha alegria.
O fim do meu sofrer.

Não há palavras para descrever
O quão grande é o prazer
De tê-la ao meu lado.

Satisfação que arrebata a alma.
Conforto que alivia, acalma.
O meu sonho realizado.

A briga em três atos

I – A ofensa

A atitude que o orgulho dilacera.
A ofensa que domina a mente.
Desperta, então, a adormecida fera,
De ação dura e contundente,
Que a dor nunca tolera.
Que age sem medo, inconseqüente.
Se ao menos esperar
O pacifico solucionar.

II – O ato

Palavras que ferem são vociferadas
Por bocas tinham o beijo como ofício.
As almas aos poucos caem despedaçadas.
Do amor o cruel sacrifício
Pelas posturas que são tomadas
Com o rancor como artifício.
Mortificada é a felicidade,
Sem pudor e com crueldade.

III – A dor

O coração agora partido
Em pranto cai a sofre.
O prazer para longe é banido.
Pelo sofrimento se entorpecer.
Ao inferno particular, conduzidos,
Cada um tragado por seu sofrer.
Sem mais poder gozar
Da alegria do amar.

Soneto da solidão

O pesar do abandono
Que rasga o coração.
Do medo o vil adorno
Que para a palpitação.

Olha para qualquer lado
E não encontra ninguém.
Pela dor é amordaçado.
Age com total desdém.

Pelo rancor embriagado.
De companheira a solidão.
Ao sofrimento se entregar.

Pela vida, amargurado,
Segue sem compaixão
E sem entender o amar.

Eterno reencontrar

Anos se passam,
Séculos talvez.
Duas almas que expressam
Desejo de se ver mais uma vez,
Para o amor compartilhar,
A missão cumprir,
Os defeitos, consertar,
E criar um novo agir.
O elo fortalecer
Do intenso sentimento.
Então, juntos envelhecer,
Dividindo cada momento,
Para enfim compreender.
O satisfatório entendimento.

Reconciliação

A paz, enfim restabelecida.
Os laços novamente atados.
A angústia é então repelida,
Pelo casal apaixonado.
Sem mais briga ou discussão.
Apenas o amar sem fronteiras.
O júbilo do coração.
A queda das barreiras
Imposta pelo orgulho, e então
As carícias costumeiras
Retornam a relação.

Compartilhar sentimentos

Quando duas almas se encontram
Para a vida dividir,
Alguns obstáculos despontam
Para testar o agir.
O ciúme, o orgulho, o medo
E tantos outros pequenos sentimentos,
Ditam o novo enredo
Para avaliar o relacionamento
A única solução então
É o completo entregar
Do corpo, alma e coração
E os momentos, bons ou ruins, compartilhar.

quarta-feira, abril 22, 2009

Seguir em frente

Não importa o quão grande
Seja o trauma a superar,
A alma se expande
Como o ato de perdoar.
Deixa para trás a tão
Dolorosa lamúria do passado.
A definitiva superação
Do sofrimento vivenciado.

Deixar para trás o que passou.
Olhar para frente, descobrir
O que o destino lhe reservou.
Um novo modo de agir
Que prioriza o presente
Para construir o futuro,
Tornando a sua mente
Um vistoso porto seguro.

O apoio

A tristeza que domina minh’alma
Sufoca meus pensamentos,
Sepulta toda minha calma
E abala meus sentimentos.

Porém, basta olhar para o lado
E o conforto encontrar,
Sentir-me estimulado
A, então, me levantar

O apoio, a segurança,
A superação do medo
Que afasta toda dor.

O coração tomado pela esperança.
A mudança de enredo,
Agora embalado pelo amor.

Sonho bom

Vistoso é o momento,
Vivenciado com empolgação,
Desperta o mais belo sentimento
E ilumina o coração.
O grande contentamento,
A esperada realização,
O carinho intento,
A deliciosa sensação
Do amor em movimento
Que toma outra dimensão.
O prazeroso envolvimento,
De contagiante vibração.
Da alma o fortalecimento
Que arrebata o coração.

Tarde de outono

O cenário em outro tom,
As folhas caídas pelo chão,

Dividas entre amarelo e marrom,
Formam a nova ilustração.

O sol mais ameno
Já não aquece o dia.

Noite de gélido sereno
A sutil alegria.

Tragado pelo medo

Cai,
Afunda em um precipício chamado medo.
Sai,
Corroído pela dor que insiste em doer em segredo.
Vai,
Pela ofensa que o faz seguir o mesmo enredo.
Esvai,
Com a dor que toma conta com golpe de torpedo.
Pai,
Ajuda o teu filho tragado pelo medo.

Mudança de hábito

Não mais pensar, “não vai dar”,
E sim “vou conseguir”.

Não deixar de lutar
Ou parar de agir.

Não pensar na derrota
E sim na vitória.

Olhar par ao que importa
E não para a glória.

Deixar de lado o egoísmo
E o orgulho também.

Optar pelo altruísmo
E sempre cuidar de alguém.

Amor sem fronteiras

Não existe barreira,
Muito menos dimensão,
Que barre por inteira
Essa intensa sensação.
O amor sem fronteiras
Que extrapola o coração.
A luz que a alma irradia,
O intenso brilho do olhar
Que explode em alegria,
A certeza do amar.
Mesmo que distante,
Os laços se tocam
E em apenas um instante,
Com um reles pensamento invocam
A presença do amante,
Para a saudade findar
Com o intenso e inebriante
Ato de amar.

A reconciliação

Duas almas, pelas divergências separadas,
Enfim, retornam e se reencontram,
A tentativa de tornar as mazelas superadas
Que seus pontos de vista apontam.
Nasce o entendimento e então
O ressentimento padece,
Fortalece o laço de união,
Toda dor se esquece.
A voz do coração passam a ouvir
A serena e sagrada sinfonia,
A mudança dos atos e do agir,
A bela e singela sintonia.

Feira livre

A cultura do campo em estado natural.
O frescor, a saudável aparência.
A labuta diária, matinal.
A mocidade e a experiência.
As pessoas circulando.
Frutas, hortaliças, legumes em exposições,
Verduras e outros itens completando
A grande variedade de opções.
A horta urbana,
O grito chamando a freguesa,
Folclórico costume que emana
O simples traço da natureza.

O costumeiro caminho

Todo dia a percorrer
Pela rota decorada,
Com a reta entreter,
A descoberta descartada.
Não enxerga a arquitetura,
Não observa quase nada,
Se na rua tem gravura,
Nunca foi detectada,
Ou o prédio de grande altura,
Imponência ignorada,
Anda sempre pela rua
E não presta atenção em nada.

Inexplicável pesar

Esvai-se pelo ar
A alegria, antes, predominante,
Tomado pelo pesar,
Dominado em um instante.
A dor sem explicação
Corrói a felicidade,
Perfura o coração
Em intensa profundidade,
Sem ao menos entender
A razão do seu tormento.
Sem qualquer acalento,
Tragado pela dor,
Que sua não parece ser,
Desavisado sofredor,
Amplificado o temer.

Namoro de portão

De carinhos inocentes,
Discretos e contidos,
Os afagos mais quentes,
Secretos, escondidos.
Quando a rua fica deserta,
Toque mais envolventes.
As mãos espertas
Deixam os corpos ardentes.
Quando a rua é tomada,
Sutis são os abraços,
A pureza é retomada
Em contatos escassos.

segunda-feira, abril 20, 2009

Campainha muda

Difícil ato de anunciar
Em qualquer local a chegada,
Se a campainha não encontrar,
Se escondida estiver localizada.
Se na verdade não existir,
Recorrer para as palmadas
Ou o nome invocado.
Torcer para que sejam captadas
Pelo proprietário trancado.

A visita

Com hora marcada
Em local pré-determinado.
Pode ser inesperada
Em qualquer lado.
Quando querida a pessoa,
Momento tão agradável,
O tempo, então, voa.
Quando intolerável,
Cada segundo atordoa,
O açoite insuportável,
Desejo que ela escoa.
O ente querido,
O ser intransigente,
O amigo sumido
O contato com gente.

Afago

A pele percorrida em toque suave
Que contorna os traços em sutil movimento.

Para que o coração grave
O sincero e intenso sentimento.

O carinho mais simples, clichê,
A libido em estado infantil,

Deixando os amantes a mercê
Do prazer contido, corpo febril.

Mimo dos enamorados,
A sinuosa carícia,

Demonstração de afeto dos apaixonados,
O amor sem malícia.

A visão monetária

Da concepção o estágio embrionário.
Da vil humana mesquinhez
Que avalia primeiro o monetário,
Sem ao menos pensar que talvez
O acúmulo como objetivo,
Seja a mais baixa inspiração.
Ignorar tantos outros motivos
Que aceleram o coração.
Não mais pela qualidade
Por esforço ou dedicação,
Muito menos com a possibilidade
De evoluir com tal ação.
É o dinheiro o seu prazer,
O lucro que lhe apraz,
A antítese, o escarnecer
A conduta do ser incapaz.

A entrega

Deixar-se levar pelo sentimento,
Embriagar-se pela sensação,
Pensar apenas no momento,
Degustar a emoção.

Isolar-se de todo o mundo,
Não pensar em mais nada,
Abstrair-se por um segundo,
Da tal vida regrada.

Não ver nada ao redor,
Entregar-se ao prazer.
A intensa empolgação.

Então, sentir-se melhor,
Após, enfim, satisfazer
O desejo do coração.

Mensagem bloqueada

O envio interrompido,
A entrega negada.

O ele é rompido,
A mensagem não enviada.

Por conteúdo distorcido,
A palavra pesada.

O teor corrompido
Pode impedir a chegada.

Talvez possa ter protegido,
A paz alcançada.

A gripe

A incômoda visita anual,
Teimosa e arteira,
As vias nasais, primeiro sinal,
Afasta do corpo a pasmaceira.
Inflama a garganta,
Eleva a temperatura,
Da cama não levanta,
Até a chegada da cura.
O inverno geralmente
Data sua chegada.
Às vezes surpreendente
Por outra estação embalada.
As condições climáticas
E a sua disfunção
Sem padrões, erráticas,
Favorecem sua aparição.
A mercê de vacinas
Ou outro medicamento
É a nossa sina,
Freqüente tormento.

O lampejo

A inesperada solução
Que a mente enobrece.

A tão desejada direção
Que, enfim, aparece.

Da musa originária,
A fonte de inspiração.

A resolução imaginária
Que afaga o coração.

Desencontros

Aponta para direção e segue,
Sem condutor ou indicação.
Apenas um sonho, ele persegue
Em estranha contradição.
A razão aponta para os fatos,
O coração segue a fé,
A mente cai em trapos,
Sem resposta qualquer.
Dividido, cortado ao meio,
Sem ao menos obter
A mínima certeza, receio.
Qual será o melhor guia?
O acolhedor sentimento
Ou a razão tão fria.
A dúvida, o tormento.

Origem do receio

Dor que todas as forças consome,
Que cessa as decisões, relutar.
A coragem, assim, some
E pelo medo, então, se faz dominar.
Completamente tragado pela insegurança,
Desequilibrado, sem eira nem beira,
Já não sente mais a bonança
Sem qualquer referencia ou estribeira.
Talvez fruto do trauma,
Da cicatriz ou ferida,
Que lhe rasga a alma,
Pelo sofrimento, corroída.

O criado mudo

Da cama, o calado companheiro
De simples expressão, simpático.
Sempre risonho e faceiro
Em seu estado estático.
Guarda segredos, documentos,
Anotações e tantas outras coisas.
Com a segurança do firmamento,
Às vezes, adornado com imagens santas.
De madeira humilde ou de lei,
Robusto e discreto protetor.
- Seus segredos pessoais guardarei.
Afirma o afônico servidor.

Novo sentimento

A mais súbita das emoções
Que agora toma minh’alma,
Gerando novas vibrações,
Às vezes, roubando minha calma.
Uma renovação que não espanta,
A transmutação do pensamento.
A mente, enfim, se encanta
E se deixa levar pelo sentimento.
Quando andamos de mãos dadas
O espírito explode em felicidade.
Então tomados pelas gargalhadas
Da alegria em intensidade.

sábado, abril 18, 2009

Nova inspiração

No semblante, então, exposto,
Fulgura por toda a face.
Sente-se mais disposto,
Não há obstáculo que não passe.
Com a sentimental proteção,
Ungido do mais puro amor,
Supera qualquer situação
E tira de letra a dor,
Pois em seu coração
Borbulha o mais puro amor.
Não há nenhuma decepção
Medo, insegurança ou terror.
Segue sua intuição
Guiada pelo mais puro amor.
Amplia sua dedicação,
Não teme qualquer labor,
Não sente mais a solidão,
Pois agora conhece o amor.

Adolescência

O humor em estado de ebulição,
Em desacordo hormonal.
O corpo em transfiguração,
Às vezes, irracional.
Te amo com toda alma,
Te odeio de todo coração,
O raro estado de calma,
Sentimentos em erupção.
Alguns detalhes ausentes,
Típicos da adolescência,
Acompanham nossas mentes,
Nos tomam a paciência,
Mesmo a dos experientes,
Presente em sua essência.

Adolescência

O humor em estado de ebulição,
Em desacordo hormonal.
O corpo em transfiguração,
Às vezes, irracional.
Te amo com toda alma,
Te odeio de todo coração,
O raro estado de calma,
Sentimentos em erupção.
Alguns detalhes ausentes,
Típicos da adolescência,
Acompanham nossas mentes,
Nos tomam a paciência,
Mesmo a dos experientes,
Presente em sua essência.

sexta-feira, abril 17, 2009

Talvez

Talvez não fosse tão grande o medo,
Se o sentido não fosse tão intenso.

Talvez afogá-lo em segredo,
Sufocando o sofrimento imenso.

Talvez se não fosse tão importante,
Poderia ignorá-lo num instante.

Talvez se fosse banal,
Não me faria tão mal.

Talvez se tivesse mais segurança,
Agiria com outra postura.

Talvez se não sepultasse a esperança,
Mais fácil seria a cura.

Talvez se não fosse tão carente,
O medo, então, não me deixaria tão doente.

A descoberta

Pára, admirado a pensar.
Reluta, caminha ao redor,
Procurando algo para explicar.
Será para melhor ou pior?
Estuda cada detalhe,
Observa a constituição,
Desde o pequeno entalhe
Até a total imensidão
Que uma novidade vale,
Que lhe desperta a atenção.

Pesadelo repetido

Do sono, o novo companheiro,
De visita constante,
Estremece o corpo inteiro,
Em sua repetição irritante.
Todo dia, toda noite,
O já previsível açoite.
Toda vez o mesmo teor
Que rasga a alma em dor.
O que fazer para evitá-lo?
Como ignorar tamanha ferida?
Talvez a solução seja ignorá-lo.
Mas com uma dor tão doída
Não é fácil fazer vista grossa.
Então cai em mazela dolorida,
Esperando por uma resposta.

A chegada dela

Os passos contínuos e compassados,
A sutil sensualidade exposta
Em gestos contidos, se mostra
E meus olhos a procuraram, enfeitiçados.

O balanço dos cabelos,
Grandes, livres, escuros,
Cobrem as partes o dorso, a escondê-los,
Como os véus, tão puros.

Cada mínimo movimento,
Por seu corpo executado,
Desperta minha paixão.

Explode em sentimento.
O coração, então acelerado,
É tomado pela emoção.

O falso escrever

As palavras organizar
Para guiar o entendimento.

Sensações a estimular
E simular o momento.

A mente ludibriar,
Conduzir o pensamento.

As frases inventadas,
O vil atrevimento.

A caneta ouriçada
Que engana o sentimento.

A emoção manipulada
Sem pudor ou discernimento.

A falência memorial

Imagens embaçadas desaparecem.
Sensações tão adoradas
E as vozes encantadas, emudecem.
A história, então, dissipada.
Sem qualquer recordação,
Em terreno vazio,
A mente em confusão,
O instinto arredio.
Cenas confusas, dissimuladas,
Ausentes o nexo e o sentido,
As lembranças embaralhadas,
O compreender perdido.
No álbum de fotografias,
Apenas o quadro embranquecido,
Repleto de molduras vazias.

Temporal

Da chuva, o enfurecer,
A queda com violência.
As nuvens a escurecer,
As águas sem clemência.
A gota sólida
Que fere a pele,
A força tórrida,
O sangue expele.
O brilho estridente,
Parte o céu, arrebatador.
O feixe reluzente,
De raro esplendor.
Pelo grito estrondoso,
O ambiente é envolto,
O decibel volumoso,
Atravessa o ar, solto.
Da atmosfera o tormento,
A fúria torrencial,
De destruição o momento,
Para renovação geral.

O mundo industrial

Da produção o reduto,
Na zona industrial
Tudo se torna produto
Sem valor, banal.

Preparado para vender,
Sem essência para preencher.

O sepulcro do sentimento,
Do trabalho o excremento.

A ânsia de multiplicar
Que cega o talento.

É preciso fabricar,
Sem descanso ou acalento.

Fotografias

O momento registrar,
Em uma cena, gravado.
Com carinho realizar
Ou apenas fabricado.
A pose que a face expõe,
O sorriso forçado,
Que o tal momento impõe,
Para que seja realizado.
Mas pode ser espontâneo,
Fruto da alegria verdadeira.
O prazer momentâneo,
Gravado para a vida inteira.

O lado oculto

A simplicidade da percepção,
Apenas capta a relevância
Que a limitada visão,
Possui predominância.
Os sinais diversos,
Pelos olhos ignorados,
Extinguem-se, dispersos,
Pelo ar dissipados.
Então nomeados, mistério.
Mas na verdade
É o vil critério
Que distorce a realidade.

Viagem astral

Quebra dos limites impostos
Pela condição corporal.

Livres e dispostos,
Seguem a viagem astral.

Outro nível de conhecimento
Atingido pela alma.

Para dor o acalento,
Despejados a mão, na palma.

A luz da porta aberta

Com a fresta começa
O chão a demarcar,
Luz que não cessa,
Pelo dia a avançar.

Brilho que aquece,
O dia a raiar,
Do céu ele desce
Para a Terra iluminar.

Atravessa a porta aberta,
Deixa marcas pelo chão,
Indica a hora certa,
Para que olha com o coração.

Sósias

De traços parecidos,
Mas de essência divergente.

Podem até ser confundidos,
Mas são diferentes.

Ambos tão intensos,
De força e vibração.

Ambos tão envolventes,
Arrebatam o coração.

Ambos são chama,
Incendiária sensação.

Ambos o corpo clama,
A deliciosa emoção.

O que difere um do outro,
O amor e a paixão,
É que o segundo dura pouco,
E o primeiro tem eterna duração.

O toque labial

Para, e paralisado olha atentamente.
Olha com olhar fulminante,
Olhar de brilho envolvente,
Dos olhos de luz cintilante.
A face magnetizada,
Atraída, sem consciência,
A outra face direcionada,
Avança com paciência.
A respiração muda,
O ritmo sincronizado,
Agora mais intensa e aguda,
O compasso é compartilhado.
Os lábios incessantes
Que anseiam o tocar,
O ensejo dos amantes,
O desejo de amar.

A árvore

Para a vida compreender,
Basta atentamente observar
O pequeno broto nascer
E em árvore se transformar.
Antes de aparecer,
Raízes firmes a criar,
Para resistente ser
Contra as turbulências a chegar.
Tronco forte, de casca grossa,
Os ramos a sustentar,
Para que então possa
Sua beleza ostentar.
As folhas verdes, a maturidade,
Apenas esperando a estação,
O momento de fecundidade.
Paciente aguarda então
O momento de exibir
Os frutos que irão sair.

Estrelas

Os adornos celestiais,
Pontos de brilho cintilante,
Centelhas sem castiçais,
Suspensas por um instante.
Ao passado retornar,
Do futuro a previsão,
É apenas um modo de olhar,
De interpretar a lição.
Em conjunto, constelações,
O guia dos viajantes,
Carregam as vibrações
Que embalam os amantes.

Questão

Talvez o tal ensejo,
Antes tão venerado,
Seja apenas um cortejo
Para um desesperado.
Mas então o que pedir
Como se comportar?
Como deve, então, agir
Sem ninguém maltratar
E não se agredir?
O costumeiro relutar,
O medo do que está por vir,
Um dia saberá interpretar.

Felicidade dividida

Compartilhar a alegria
Com a alma sincera
Empolga e contagia,
Amplia a esfera

Agir sempre feliz
Da face o adorno
O atraente chamariz
De curvilíneo contorno

O carinho de coração
Dividido, o amor amplia
Unindo a emoção

O toque de magia
Que eleva a vibração
O pão nosso de cada dia

quinta-feira, abril 16, 2009

O tal inferno

O outro já disseram ser,
O destino dos injustos
Quando a morte interceder.
Sem árvores ou arbustos,
Nem rios a correr,
Apenas mazelas e sustos
E o tal fogo a arder.
Dos vivos o temor,
Alguns o ignoram,
Causando o horror,
O seu destino, comemoram,
Estranho torpor
A história é confusa
Por um anjo governado
De ação sem escusa,
Do céu então jogado
Traído por sua inveja destinada a Deus.
Quer aumentar o poder
Roubando os filhos Seus.
Pela tentação trazer
Para o fogo do inferno,
Fazendo-os sofrer
O tormento eterno.
Assim dizem ser
O tal inferno.
Mas também pode ser
O mal intento interno.
Que ninguém vai dizer
Queimar no fogo do inferno.

A carta

Palavras em sentimento
No papel guardada.
Com a caneta em movimento,
Histórias são contadas.
De entes queridos o contato,
Expressão de amor.
Da saudade o relato
Ou a mensageira da dor.
Quando triste é o fato,
Dos olhos o deleite,
O despertar do pranto.
Pode ser com enfeite
Ou apenas o papel branco
Entoando o canto.
Dos poetas e escritores,
Do livro, das vidas,
De experiências ou dores,
Jamais esquecidas.
No papel gravada
A palavra sincera.
A carta enviada
Que tanto espera.

Cozinhar

Porção de carinho,
O toque das mãos.
Talvez um pouquinho
Do tempero emoção.
Amassa, aperta, amassa,
Pitadas e outras quantias,
A forma tomada pela massa,
O cortar em fatias.
Picado ou ralado,
A arte do contato.
Do cozinheiro o legado
Do saboroso prato.

Sono conturbado

A noite intensa,
A mente em ebulição.
A insônia propensa,
O desespero, a solidão.
O temor de adormecer
E presenciar os medos
E, então, atraído ser,
Para seus profundos segredos.
A alma perdida,
Vaga em caminhos desconhecidos.
A lembrança doída
De sentimentos esquecidos.

O sétimo

Número de muitos significados,
Do repouso é o dia,
Sete são os pecados
A proibida orgia.
Sete notas musicais,
Da mentira o numeral.
Sete são as artes,
Sete igrejas, celestial,
Maravilhas em sete partes.
A sabedoria representa,
Travessuras, pintar o sete,
Sete chaves o segredo ostenta,
Do arco-íris sete cores,
A sétima arte
Lar dos atores.

Caminhada

Passo a passo
Em ritmo acelerado
Mantendo o compasso
Pelo coração, marcado
Perna ante perna
E o corpo em movimento,
Da saúde interna
O ato de preservar intento
Carros passam
Árvores passam
Pessoas passam
Cachorros correm
As forças cessam
Então, não mais se movem
Os que por sedentários se passam
Aos poucos morrem

Falar sem assunto

Manter em atividade, apenas
A boca em movimento
Desperdiçando palavras
Em sentenças sem sentimento
O simples ato de falar,
Assunto prévio não requer
E o comunicar por comunicar,
Cria frase qualquer
O carro, a rua, o céu,
Relato revelador ou banal,
Gerando algum decibel,
Usar o aparelho vocal
Ação, às vezes, perigosa,
Com o que vai expressar
Uma mensagem ardilosa
Um mau entendimento pode causar
E a ferida será dolorosa
A mente, então, dilacerar
Com palavras pequenas e inescrupulosas
Até, aos poucos, a alma matar

Expectativas

A fantasia criada
Pela mente ansiosa
Quando não encontrada
Conseqüência desastrosa
O sonho, devaneio
Que desperta o desejo
Não correspondido pelo alheio
Que não compreende o ensejo
Ato, então, derradeiro,
A ausência do lampejo

Contato

De dois pontos, a união
Um toca o outro
Da energia a condução
Pela corrente envolto,
O corpo reacende
Em ebulição, surpreende
A intensa troca
À sua força, se rende
A ausência sufoca
A constante procura
Rotina repetida
Do desejo, a cura
Da libido contida

Raiz

A base sólida que prende ao chão
Segura tão firme, forte, intensa
Não desgruda nem com furacão
Ou outra anomalia propensa
Uns enxergam como prisão
Parada, fixa, suspensa
Sem entender a real missão
Ignorando-a, dispensa
Age pela falsa liberdade
Desprende-se do chão
Em meio à debilidade
Volta para ele então
Sem raiz ou estabilidade
É levado pela imensidão

terça-feira, abril 14, 2009

Desafinado

Eu canto mesmo assim
Canto por gostar de mim
Se o canto incomodar
Procuro outro canto para cantar
Sem encanto a entoar
Canto em meu canto sem encantar
Canto em qualquer canto
Esse é o meu cantar

De repente

O ato do reflexo
Intenso, impensado
O interprete perplexo
Por impulso acionado
De repente errático
De repente estático
De repente simpático
Certamente precipitado

Então samba

O ritmo dos bambas
Pode ser de uma nota só
De cadeiras ou caçambas
A alegria do choro em dó
Mexe com o salão
Mexe com a avenida
Acelera o coração
Revela a aura escondida
Samba rock
Samba pop
Samba toque
É o basta do sofrer
A alegria do povo
Sambar até amanhecer
E sambar tudo de novo...

Feriado

Na semana inserida
O domingo forjado
De alegria entorpecida
O descanso de bom grado
Data comemorativa
Ou dia santo
Pode ser festiva
De respeito ou encanto
A todos satisfaz
A quebra da rotina
A alegria fugaz
A todos desatina

Beco sem saída

Caminho sem continuidade
Por barreira ou intervenção
Não deixa possibilidade
E qualquer solução
Voltar, rota de desistência
Ficar, estagnar estagiário
Inútil persistência
Ato reacionário
Saber abordar a hora certa
É o segredo da liberdade concreta

Luzes artificiais

Pequenos e eletrônicos pirilampos
Sepultam a escuridão
Substituem as velas dos campos
Tornam-se a nova opção
Para suprir a ausência solar
Que surge ao anoitecer
Sob a luz do luar
Antes, hora de adormecer
Com o advento da eletricidade
Problema solucionado
À noite, ressuscita a cidade
Quando o botão é acionado

Sons da cidade

O bater rítmico da britadeira
O estridente alarme disparado
Os motores rasgam a pasmaceira
O zum, zum, zum, por todo lado
Zunidos da multidão
Que nunca se cala
A buzina, a discussão
Se algum veículo resvala
Sirene que chama a atenção
Será um acidente a chamá-la?
Momento de tensão
A cidade se cala
O retorno a rotina
Ao horizonte, tragá-la

A praça central

A união tribal
De características peculiares
Trazem no traço individual
Típicos de seus lares
Compartilha a diversidade
De culturas e crenças
O ponto alto da cidade
A variedade imensa
A lição, a solidariedade
O respeito, a diferença
Deixe de ser possibilidade
E, enfim, a paz vença
Nascer de uma sociedade
A esperança intensa

Movimento da multidão

As corredeiras humanas
O mar de gente
Correnteza que engana
Ondas envolventes
Maré de passos
De ritmo compassado
Descrevem os traços
Do povo entrelaçado
De fluídos e espaços
Desajustadamente organizados

Reforma interior

Os buracos e demais flagelos
No âmago da alma presentes
São mais devastadores que martelos
Atacando com golpes insistentes
Cada tijolo encaixar
Pinturas para contribuir
A essência renovar
Um novo jeito de agir
Para curar as mazelas
O conserto dos defeitos
Principalmente aquelas
Ações de maiores preceitos

segunda-feira, abril 13, 2009

Escolha certa

Escolher a alegria a tristeza
O sorriso a chorar
E encontrar a verdadeira beleza
Escondida sob o olhar
Deixar-se levar pela emoção
Entregar-se ao bem estar
Embriagar-se com a sensação
Do intenso amar

Reposta pronta

A tal ânsia de pensar
Decreta o estado terminal
É tempo a desperdiçar
Quer o conhecimento superficial
Já não vale estudar
Supérfluo, sem sal
É proibido pensar
O trabalho braçal
Por que racionar?
Um ato tão banal.

A escrita musical

Entre tons e semitons
Por figuras representadas

Que transformam-se em sons
Por instrumentos entoadas

De universal compreensão
Quando do papel transportada

E traduzida em canção
Pela alma encantada

Contaminação

A vil disseminação
De baixas atitudes
Conduzem toda a ação
Despertam vicissitudes
Congelam o coração
O escárnio amiúde
Sepulta até a paixão
Ou qualquer virtude
Não há mais vibração
Ou algo que ajude

Literatura infantil

A construção limitada
Simples são as junções
Ou sentenças utilizadas
Em inúmeras redações

A composição textual
Sem grandes inovações
Previsíveis o jargões
Da estrutura lexical

Provinda das limitações
Talvez de origem mental
Constata em quinhões

A postura literal
Abordada em ações
De cunho teatral

O aborrecer

Súbita raiva instalada
Toma conta do ser
A face então alterada
O olhar a endurecer
Já não há mais risada
Ou alegrias a enaltecer
A alma é transfigurada
Ao tal aborrecer
A fisionomia fechada
A fúria o faz temer
Alguma ação impensada
A lápide do prazer

Cócegas

O riso aguçado
De origem artificial

Por toques, estimulado
De cunho quase irracional

Alguns mais sensíveis
Não podem controlar

Atitudes irresistíveis
A pele tocar

De piadas inaudíveis
Cai a gargalhar

Descaso

O ato de acomodar
Deixar as coisas de lado
Não mais trabalhar
O íntimo rebelado
A preguiça a desabrochar
O caráter revelado
Com o ato de ignorar
O dever a ser executado

Comunicação do trânsito

A buzina a soar
Seja para agradecer
Ou para ameaçar
Motores a ferver
Carros a acelerar
O ronco parece ensurdecer
A música compartilhada
Aos muitos watts de potência
A pedestre atropelada
As sirenes com veemência
Gritos, ofensas entoadas
O calor e a violência
Das ruas desregradas

Fuga

Prepara a mala,
Algumas roupas e ilusões
O quarto se cala
Alegrias e decepções
Retornam a sua mente
Todas as recordações
Dores e amores, latentes
Olha para os lados
Retratos ao chão
Sutilmente jogados
Chamam-lhe a atenção
Pega-os um a um
Senta, observa e então
Decide ir a lugar algum

quarta-feira, abril 08, 2009

A esperada do milagre

Pára, senta e contempla o céu
Observa atentamente a procurar
A leve brisa dissipa-se ao véu
Então desespera-se a gritar
O alto grau de elevado decibel
Cansado, respira fundo senta
Espera por um milagre
A solução sagrada que acalenta
Algo que salve, consagre
O telefone a tocar
Ele não atende
Mensagens ao colo coletar
Em chamas ele acende
Prefere ficar a lamentar
Ignora toda a ação
Então, coloca-se a esbravejar
Por não compreender a comunicação

Do círculo às esferas

Convívio falso, fantasioso
Migratória participação
De movimento sinuoso
A almejada aparição
O círculo vicioso
De imagem, em expansão
Onde, parecer virtuoso
Tem maior expressão
Brotam aos montes
Das tais esferas sociais
Que trancafiam horizontes
Agindo como animais
Habitat de concreto e pontes
Dos novos neandertais

A estante

O lar dos livros
E alguns itens pessoais
Uns altivos
E até jornais
Quase sempre escorada
Próxima a parede, encostada
De madeira, metal
Ou outro material
Às vezes com porta retratos
Da família, lembranças
Com faltos e relatos
De amores e esperanças
Sempre ali parada
Forte, solicita, de confiança
Com coisas e coisas empilhadas
O espetáculo matinal
Ao horizonte, surge
Tênue, surreal
O clamor diário urge
Ao longe, resplandece
Derramando energia
Que a vida carece
Ao ar alegria
Que a alma enobrece
De intensas cores
Diversidade luminosa
Refletida pelas flores
Que levantam libidinosas
Aurora dos amores
Da natureza a prosa
Ponto alto, inacessível
Tão distante
Misterioso e incompreensível
Ilustre, inquietante
Morada do sagrado
De boa índole detentores
De formas sinuosa, cercado
Fundo banhado a várias cores
Do anil envolvente
Ao negror eloqüente
Lar do astro rei
E da rainha bela
Senhores dos ares
De alternada candela
Cujo encontro desejado
Demora a acontecer
E os carinhos, o regalo
Envoltos, sob o escurecer
O ar tão envolvente
Da brisa noturna
Atmosfera eloqüente
Caminha taciturna
A nuvem carente
Em meio ao brilho estelar
Pequenos pontos cintilantes
Que contornam o luar
Em clima inebriante
Os traços cinzentos
A colorir o negror
Cromático acalento
De suave torpor

Indisposição

Tarefas a fazer
Ânimo, porém, limitado
Só quer satisfazer
O descanso almejado
Não quer mais escrever
O pensamento cravado
A preguiça obedecer
Confirma seu estado
De querer permanecer
Na cama, deitado
Na esperança de amanhecer
Um dia mais animado

Quarto escuro

De quatro paredes composto
A iluminação não se faz presente
Por motivo suposto
E razão aparente
Por tristeza ou depressão
Trancafiando o sentimento
Sugado pela solidão
Do pedaço do apartamento
Da luz a televisão
Imagens em movimento
O filme é a atração
Opção de divertimento
Para o casal o ensejo
De intimidade o instante
Do corpo o desejo
Da libido ludibriante

Discussão

A troca de farpas
De palavras ultrajantes
As afiadas estacas
De poder mortificante
Impropérios são atirados
Respondidos com injúrias
O momento desperdiçado
Tragado pela fúria
Que gera o comportamento rude
Um lance capital
A vil atitude
Fecundada por motivo banal

Partida de futebol

A mais perfeita justiça social
Provém do esverdeado gramado
Quatro linhas marcadas à cal
Criam o cenário desejado
Noventa minutos
Momento notável
Os sábios e os matutos
O rico e o miserável
Pelo radio, internet, televisão
No estádio, arquibancada
Não importa a posição
Quando a canção é entoada
Compartilham a sensação
Da vitória conquistada
E espantam a solidão
Da derrota anunciada
Fazem parte da mesma nação
De torcida chamada

terça-feira, abril 07, 2009

Dois violões

Das cordas a vibração
Pelo ar ecoa o som
A carícia à audição
Violões de variado tom
De harmoniosa composição
A música, o sonho bom
O afago no coração
Balé dos dedos, o dom
A dança do arpejo
A melodia corre arteira
O primor do desejo
Que a alma tanto alteia
O uníssono trovejar
Da moda, samba, peça
Ou outro estilo a entoar
Os males e amores expressa
Dois violões a cantar

Atração

De dois corpos o chamado
Força que estimula a união
Os contornos agora posicionados
Entorpecidos, desejando a aproximação
O magnetismo estonteante
Exercido pela proximidade
Irresistível atração, o instante
De delírio e insanidade
Ao encontro induzidos
O encaixe dos corpos então
Culmina em toques ludibriantes
Movimentos de intensa conexão
Que alimenta dois amantes

Censura

A fama pela ditadura
Dos aos a objeção
Regimento linha dura
O ápice da proibição
A distribuição escura
Esconderijo da informação
Exame crítico da literatura
E outras formas de expressão
Chaga aparentemente sem cura
Se antes pela repressão
Hoje desculpa mais pura
O jogo de interesses então
Propicia a neo-censura

Ecos do passado desconhecido

Quando na liberdade há o excesso
Tranca-se a porta da nova prisão
Pois, o desejo que é expresso
Parte de uma falsa ilusão
A postura, aparentemente, sólida
Diante dos olhos passa a derreter
A realidade insólita
A alienação do reverter
O discurso vazio berrado
Relembra situações nunca vividas
Conhecidas por livro ilustrado
De formas e letras coloridas
Revolta-se com a verdade, nua e crua
Com palavras sem sentido, bramir
Com faixas pela rua
De frases decoradas do velho mártir

Avaliação

De palavras reduzidas
Atividade, porém, visceral
A técnica ainda adormecida
Para o talento textual
Os sentimentos vociferados
Jogados, atirados, distribuídos
Às vezes tão truncados
Difícil de ser compreendido
Talvez seja da arte a sina
Não veio para ser compreendida
Mas, como a vida, ensina
Com fórmula a ser distorcida

Perguntas

O mistério das vontades distorcidas
Dúvidas sobre de onde provém
As respostas emudecidas
A consciência e o entendimento aquém
Como posso corrigir?
Qual trajeto escolher?
Qual o modo certo de agir?
Alguém pode responder?

Mudança de rumo

De um comentário desnecessário
Que desperta o esdrúxulo sentimento
Do coração agora precário
Quase dominado pelo excremento
Da alegria o obituário
Do prazer o encerramento
Altera todo o itinerário
Proposto para aquele momento

Vozes do interior

Às vezes confusas
Incitam atos diretos
Com ofensas inclusas
Estímulos fortes ou discretos
Brotam do ponto mais íntimo
Do mais escuro interior
Impondo outro ritmo
A mente, o estranho torpor
Leva-te a ações execráveis
Distorcem o ponto de visão
Sentimentos, então, instáveis
Consciência em estado de divisão

Ponto de partida

A largada, momento de saída
O primeiro passo
O ponto de partida
Aprender a ceder espaço
Maior lição da vida

Confusão

Inversão da trajetória dos fatos
O abandono da eloqüência
A voz expõe o disparato
Se avaliar a conseqüência
Vomita confusos relatos
Vociferar motivos de divergência
Atos injustos e ingratos
Sufocam a consciência

segunda-feira, abril 06, 2009

De horrores e insanidades
Pela busca brutal e incessante
Por chagas da humanidade
Exaltando orgulho e poder
Custe o que custar
Não importa o que fazer
Até enfim conquistar
O ilusório prazer

Prelúdio do fim

Da essência meliante
Provém a impureza
Que lhe toma por um instante
a sanidade e a clareza
O voraz repúdio
ao ato minúsculo
É talvez o prelúdio
do encerramento do crepúsculo

A encruzilhada

A diversidade de horizontes
Até onde a vista alcança
Faz com que encontres
O desabrochar da esperança

Recobrar a consciência

O intenso despertar da razão
Que se espalha por toda a mente

Bombeada pelas artérias do coração
Preenche a alma carente
antes pelo orgulho, cegada

Agora completa,
de brilho estridente

Pela felicidade iluminada
Expulsa o mau que fazia presente

Calmaria

Depois das atrocidades
De ferozes ventanias
As tórridas tempestades
Abrem espaço à calmaria
Sobrepõem enfermidades
No coração brota alegria
Semeada pela esperança
Regada pelo amor
Traz consigo a bonança
E espanta o furor

Madrugar

A desconfortável cama
Súbita sensação incontrolável
Que a alma inflama
Sentimento detestável
O sono então ausente
O sol a espreita de raiar
Horrores que toma a mente
Que forçam a acordar

Dias confusos

Os sentimentos à flor da pele
Em carne viva, explosivos
O mínimo arranhão a alma fere
Preocupação e medo excessivos
Segundos de fé tomam a mente
A continuidade dos dias aflição
Triste, desamparado, carente
O ciúme lhe toma o coração
O que fazer para melhorar?
Quando o apoio parece incerto
Em uma resolução acreditar
Mas querer ela sempre perto
Sensações difusas a dominar
Na hora da decisão, o aperto
Será que irão te esperar?

sexta-feira, abril 03, 2009

Texto chulo

De técnica limitada
Talvez com equívocos ortográficos
Palavras são lançadas
Com apoio esferográfico
Sem referência apresentada
De texto europeu ou asiático
Ou outra cultura aclamada
Pode permanecer estático
Sem o primor, delinqüente
Apenas algum sentimento
Será isso o suficiente?
Ou ainda falta talento?

Três considerações sobre a vida

1 – Pode ser boa ou ruim
De dor ou prazer
Vai depender de mim
Qual opção escolher

2 – Temos dois rumos a tomar
O amor ou a glória
Um deles vai guiar
Nossas ações e história

3 – Foi feita para ser vivida
E chorar ou se esconder
É ignorar a dádiva concedida
O milagre de viver

A busca pelo sustento

A tal batalha diária
Da luta pelo sustento
Industrial ou agrária
Ou qualquer outro elemento
Ausente deste meio
Envergonha todos ao redor
Torto, deslocado, alheio
Considerado vagabundo ou pior
Sonho, talvez irreal
Sustentar-se pelo talento
Orgulho ou ideal?
Confuso é o momento

Sete regras

Se você quer melhorar
Crescer, evoluir
Basta ao redor olhar
E sete pequenas regras seguir:

1 – Levante a cabeça
Com ela para o chão
Mesmo que atalho apareça
Você não verá o caminho

2 – Dos amigos não esqueça
Pois, não há conquista sozinho

3 – Entregue-se ao amor
Pois, o coração amado
Ignora a dor
Sempre forte e revigorado

4 – Confie em seu talento
Pois, se não acreditar
Caíra ao relento
Sem ninguém te encontrar

5 – Sempre sorria
Com a felicidade irradiar
Entorpecer-se de alegria
A alma iluminar

6 – Agradeça todo dia
Por mais um sol raiar
Com força e energia
Mais uma chance para tentar

7 – Tenha fé no coração
Deixe-se guiar
Pela voz da intuição
E Deus irá louvar

Despertar

Conhecimento até então adormecido
Que parece despertar
Cada vez mais sentido
A mente a encontrar
Como foi adquirido
O mistério a desvendar
Será o dom tão discutido?
Ou ilusório domar?
Um talento antes escondido
Que começa a desabrochar
Mas quando foi aprendido?
De onde brotar?
Confuso e perdido
Pela resposta esperar

Estranha sensação

Algo impregnado à mente
Incomoda, atrapalha a decisão
Arrepia até o descrente
Que é tomado pela emoção
Confunde toda gente
Será verdade ou ilusão?

Imposição

Proposta de obrigatória aceitação
Muda toda a trajetória
Quer queria, quer não
Outro rumo para a história
Sem pedir opinião
Sem consideração ou memória
Da intensa dedicação
Sem vergonha transitória
Impõe sua posição

Desemprego

A falta do que fazer
O excesso de tempo
A mente pode enlouquecer
A idéia em excremento
Ausente força para reerguer
Num céu sem firmamento
O medo de envelhecer
Sem qualquer investimento
Pela dor se corroer
Sugado pelo sentimento
O orgulho se contorcer
Desesperado rebento
Sem ter de onde receber
Em excesso, só o sofrimento

Depressão

Cansaço, dor, maldição
Perdido sem alternativa
Problemas sem solução
A voz não mais ativa
Desespero por não conquistar
Pelo orgulho a corrosão
Pensamentos inóspitos, ludibriar
Movimento impróprio, má sensação
Sem um caminho a encontrar
Tragado pela solidão
Parece sempre se intimidar
Afogado em depressão

Auto-solidão

A hora que não passa
Tão longo é o momento
A paciência escassa
Dissolve ao vento
Pedido a ela – me abraça?
Solitário, caído ao relento
Sem palavras rechaça
Auto-abandono, talvez intento

quinta-feira, abril 02, 2009

O mundo real

As coisas são como são
e não adianta chorar como criança desmamada
Com os anos a adição
tal atitude passa a ser ignorada
Se te ferem o coração
talvez por ter perdido a levada
Aceitar certa condição
da atual toada velhas e cansada
Representa provisória solução
até que outra seja encontrada

Últimas palavras

Tchau, adeus, até logo, até mais,
Qualquer outra variação
Momento em que a união se desfaz
Parte para outra dimensão

O muro

Alto, duro, forte, concreto
Envolve com certa proteção
Friso de luz discreto
Causa suave iluminação
Envolto, do mundo incerto
Não faço distinção
O âmago do espírito espeto
Esperando alguma reação
De frieza e repleto
O muro que antes defendia
Agora tornar-se prisão

Esboço das emoções

Primeiros são os traços
Para compor um coração
Talvez dos esculachos
Parta tanta indignação
Ou alguns moldes escassos
Tragam a insatisfação
Correções, primeiros passos
Podem apagar a dolorida sensação
Aperfeiçoar tais traços
Provindos do esboço da emoção

Álgebra avançada

Doar-se muito
Esperar por pouco
Talvez o intuito
Possa parecer louco
Para o detentor de ambição
A contagem ignorada
Quando passará então
A receber nada

Sem mais

Ferir a fera já ferida
Doer a dor antes doída
Falir em falência novamente falida
Receber a recepção nunca recebida
Distrair ou distração jamais distraída
Para a reflexão ser concluída

Tolices

Da terra do faz de conta
Do nunca talvez
Não se apresenta ou aponta
Do sorriso aridez
Preocupação cansada e tonta
Da tal avidez
A tolice se encontra
Com a estupidez

quarta-feira, abril 01, 2009

Reciclar

A mente alimentar
Com formas e informação
Os excrementos aproveitar
De injustiças e difamação
E em arte transformar
Para sua diversão

Desejo irracional

O tal sonho dourado
Da conquista e glória
No mundo acelerado
De atitude provisória
Você não pode ficar parado!
Mensagem transitória
Você será tragado!
Torna-se vagabundo, escória
Cada vez mais acumulado
Onde está a recompensa desta história?

Falência operacional

Corta, quebra, passa,
empacota, enfeita, fagulha
Hora de descanso, escassa
Debate-se pela faringe
No estômago embrulha

Empilha, prega, bate,
encaixa, parafusa, pinta
etcetera e tal.
A vida numa esteira
da zona industrial

Satisfação trivial

O orgulho da conquista
que dissipa-se ao relento
Talvez cego, despista
a dor do tal invento

Pois, para si coisa genial
E para o resto do mundo?
Será ato banal?
Ou ação de vagabundo?

Rancor

Dor que é estendida
Por más paixões, alimentada
A alma é corroída
Por doença contaminada
Condição imprópria e sofrida
Difícil de ser erradicada
Alguns ignoram a investida
Outras pessoas são instigadas
Pela falta de pesticida
Pelo rancor são tragadas

Corda

Variado é o material
De sua composição
Composta por sisal
Boa para amarração
Pode ser musical
Percorre o braço do violão
Ambas opções envolventes
Seja para rendição
Ou libertar as mentes

Reflexo

A face que me encara não reconheço
De traços e contornos ausentes até então

Com o pesar do olhar espesso
Marcas que aparecem como assombração

Inocência, sentimento pelo tempo disperso
Expressão que dispensa lisuras

Pelo beco escuro, imerso
Semblante composto por linhas duras

Nuance escondida na pupila dilatada
Um instante retorno, reaparecer

Resgate da essência pelos anos sufocada
Retorno incólume da jornada e passo a me reconhecer

Sincero descontrole

O tal controle emocional
Tão benéfico nomeiam
Mais parece teatral
De falsa forma permeiam
Visa o interesse pessoal
Ato chulo que alteiam
O descontrole da emoção
Pelo menos verdadeiro
Vociferada corrosão
Que o toma por inteiro
Não faz distinção
Ao pensamento alheio

Mural de retratos

Da vida o relato
Do nascimento ao atual
Expondo os fatos
A alegria atemporal
Em vários formatos
Compõem o mural
Os estáticos retratos
De memórias, manancial
O pôster ou três por quatro
Lembrança especial

Biografia oprimida

Traços da personalidade
Num profundo poço escondidos
Medo, fraqueza, vaidade
Sentimentos vergonhosos, reprimidos
Impotências e incapacidades
De torná-los banidos
Orgulhos e voracidades
Vociferados em gemidos
Da tal trivialidade
Horrores, então, expandidos
Tomado pela animosidade
Deixando rastros feridos
A queda da sanidade
Os ultrajes bramidos

Tênis furado

Os traços em frangalhos
A cor já desbotada
Remendos e retalhos
Contornam a fachada
Anatômico formato
Adapta-se ao contorno
Uns chama de trapo
Pelo desgastado adorno
As milhas de experiência
Companheiro de trilhas e obstáculos
Retrato da adolescência
Dos juvenis espetáculos
Símbolo de uma geração
Em farrapos, esmigalhado
Ou a única opção
Dos pés descalços e desolados

Era digital

Mundo complicado
Eletrônico e digital

O relacionamento separado
Do toque mental

Envolvimento moderado
Pela tela de cristal

O sentimento programado
Do amor virtual

Contato virtual

A vibração da voz eletrônica
Ao ouvido como carícia soa
Por onda radiofônica
A conversa desejada entoa
Satisfação artificial
Fixa, móvel, celular
Interurbana ou local
O diálogo a teclar
A mensagem sem fronteira
O encontro virtual
Para o contato a barreira
O prazer irreal

Condução de pensamento

Os fatos, relatos escondidos
Ou inoportuno impropério
O fruto do saber proibido
Imposição, missão do império

Abnegação do conhecimento
O entender, então, reprimido
O regredir, desfalecimento
Evoluir não é permitido

O enforcar do discernimento
Direito ao poder omitido
O aprender pelo excremento

Êxodo intelecto, banido
Ignorância, o pobre rebento
O ser pensante, enfim, falido

Arrumar

Cada qual em seu devido lugar
Categorias, alegorias
A disposição a facilitar
Catalogados em sumas vias

Sob a lógica são ordenados
Em numeral ou alfabético
Agradável ordem, estético
Super expostos, localizados

Ato estranho e frenético
Pela organização, dopados
Estado estranho, patético

Obcecação pelo separado
O impulsivo estudo métrico
O compulsivo ao extremado

Corrupta ação

É descabida circunstância
Realidade cruel e vil

Esvai-se a tolerância
Já não se faz varonil

O excremento da instância
Verde, amarela e anil

A fétida fragrância
Da ordem ardil

Falência da esperança
Nula democracia caiu